Colonialismos e Colonialidades

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Segunda parte - circulações intelectuais

Diálogos e circulação de feminismos negros e pós-coloniais contemporâneos entre Brasil e França: o caso de Djamila Ribeiro e a coleção Feminismos Plurais

Resumo Ainda pouco conhecida fora do Brasil, a obra de Djamila Ribeiro começa a circular na França a partir de 2019 graças à editora Paula Anacaona. Esses ensaios, assim como os demais títulos da coleção Feminismos Plurais traduzidos para o francês, abordam diferentes temas ligados a correntes do pensamento pós-colonial, como apropriação cultural, interseccionalidade, empoderamento e transfeminismo. Ao observar a circulação e a recepção das obras de Djamila Ribeiro e da coleção Feminismos Plurais na França, este artigo pretende analisar a contribuição dos feminismos contemporâneos para a crítica da colonialidade, ajudando a compreender a estabilidade dos fenômenos de subordinação e suas raízes na longa história do colonialismo.
Al escribir, pongo el mundo en orden, le doy una agarradera para apoderarme de él. Escribo porque la vida no apacigua mis apetitos ni el hambre. Escribo para grabar lo que otros borran cuando hablo, para escribir nuevamente los cuentos malescritos acerca de mí, de ti.
Gloria Andalzúa, Carta, 232

No dia 29 de Setembro de 2018, muitas cidades no Brasil e no mundo foram marcadas por imponentes marchas, apresentadas pelos meios de comunicação como manifestações históricas para os movimentos feministas no país. Uma mobilização que nasceu no espaço virtual e se reuniu em torno do hashtag #elenão, realizando a difícil articulação entre as lutas virtuais e os protestos de rua. As mulheres brasileiras não foram as únicas a mobilizarem-se no continente, pois vários movimentos feministas tem desafiado as sociedades latino-americanas, em torno de lutas e exigências plurais, tais como o direito ao aborto, a resistência contra a violência do extrativismo, a denúncia de impunidade por estupro e feminicídio. Trata-se de uma múltipla e heterogênea "explosão feminista"1 que participa de uma dinâmica global, visível graças às formas digitais de luta, e que ecoa na Europa e contribui para transmitir e actualizar reflexões sobre a colonialidade e os seus efeitos de subalternidade. Dentro desta dinâmica, quais poderiam ser os efeitos destes feminismos contemporâneos na circulação de ideias entre a França e o Brasil/Brasil e a França? Com base no estudo do caso de Djamila Ribeiro e na publicação da série de livros Feminismos Plurais na França, este artigo está estruturado em torno de palavras-chave e representa uma modesta contribuição para a problematização da complexidade das relações intelectuais transnacionais entre a Europa e as Américas de hoje.

Definições #

O estudo aqui apresentado não pretende retomar todos os debates actuais relacionados com os estudos poscoloniais2 nem problematizar as definições de estudos "poscoloniais", "decoloniais", "anticoloniais" no mundo francófono e lusófono. Como o objectivo do nosso estudo é a circulação dos ideais feministas contemporâneos, estamos particularmente interessadas nas influências, sejam recíprocas ou unilaterais, e no diálogo entre pensamentos que se identificam como feministas "negros", "afro", "decoloniais", "poscoloniais" e que, através da análise da dimensão interseccional das estruturas de dominação, representam uma crítica fundamental dos efeitos subalternizantes da colonialidade. Nesta perspectiva, a nossa análise também considera aspectos relacionados com a tradução, publicação e recepção de obras feministas. Embora esta dimensão possa parecer secundária em relação à teórica, permite-nos, no entanto, observar outros espaços em relação à produção acadêmica e erudita e ilustra a emergência de audiências e editores que contribuem para uma divulgação mais ampla destes ideais.

No país com a maior população afro-descendente das Américas, os movimentos de mulheres negras foram construídos num contexto multirracial e multicultural, tendo o racismo e o seu impacto nas relações de gênero como "eixo principal de articulação" (Carneiro, n.d.). Nos anos 80, Lélia Gonzalez já tinha salientado a importância da matriz interseccional no feminismo latino-americano como um todo, afirmando que este último se torna sem sentido quando "desrespeita o caráter pluricultural e multirracial das sociedades do continente e esquece a dimensão racial" (Gonzalez 2020, 142). Se, como defende Constância Lima Duarte, a história do feminismo brasileiro é pouco conhecida, principalmente porque é pouco contada (Duarte 2003), a história das lutas das mulheres negras é ainda menos conhecida e contada3 . No início dos anos 80, à margem do processo de redemocratização4 , grupos e coletivos de mulheres brasileiras, muitas delas já ativas no movimento negro, começaram a estruturar-se, criando o movimento que agora se chama "feminismo negro". O final dos anos 80 e início dos anos 90 caracterizam-se por uma "perspectiva militante e teórica de enegrecimento e pluralização do feminismo" (Silva 2018, 254) que participa no que é comumente referido como a terceira onda.

Na introdução à coleção de ensaios Explosão Feminista (2018), Heloísa Buarque de Hollanda celebra a efervescência dos movimentos feministas contemporâneos no Brasil e na América Latina e assinala que a virada epistemológica da chamada terceira onda5 só hoje é plenamente apropriada pelo espaço público do ativismo e pela experiência dos movimentos LGBTQIs e negros (Hollanda 2018, 18-19).

Djamila Ribeiro #

Djamila Ribeiro, que pode ser considerada um ‘ícone’ do feminismo contemporâneo, afirmou ser uma ‘feminista negra’ desde as suas primeiras obras6 . Os seus ensaios e sua postura ativista são tributários das reivindicações dos primeiros movimentos de mulheres negras no Brasil e a autora declara sua genealogia intelectual, citando amplamente figuras históricas como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro. Esta última assina a orelha da reedição de Lugar de Fala, o primeiro ensaio de Djamila Ribeiro e livro que inaugura a coleção Feminismos Plurais, materializando, assim, a ligação e o reconhecimento entre gerações de mulheres intelectuais. Considerada porta-voz do feminismo negro, Djamila Ribeiro é muito conhecida no Brasil e Heloísa Buarque de Hollanda apresenta-a, juntamente com Roseane Borges e Helena Vieira, como uma das três intelectuais e ideólogas representativas dos novos ‘feminismos da diferença’ no país (Hollanda 2018, 248). Jornalista, escritora, filósofa, editora, militante e ativista digital, a figura de Djamila Ribeiro não é unânime no Brasil, encontrando-se frequentemente no centro de críticas, mesmo no seio dos movimentos antirracistas e feministas7. Circulando sem hesitações entre a publicação de um ensaio teórico e participação em um evento internacional vestindo Prada, Djamila Ribeiro é uma personagem difícil de classificar, como ela própria assinala: "o problema é que o meio ativista me considera uma acadêmica, e a universidade me considera uma militante" (Ribeiro 2021, 36). A leitura dos ensaios e artigos de Djamila Ribeiro mostra que esta dicotomia é apenas aparentemente contraditória. O discurso e a postura da autora são a expressão de uma economia global do conhecimento onde as influências teóricas estrangeiras - principalmente americanas, no caso de Ribeiro - são facilmente articuladas com as locais. Da mesma forma, autoras feministas negras podem tornar-se best-sellers globais, aparecer na capa da revista Elle e tornar-se celebridades8.

O empenho de Djamila Ribeiro na divulgação e valorização do pensamento feminista negro não se limita à escrita de artigos e ensaios, mas se extende ao projeto editorial Feminismos Plurais. Os objetivos desta coleção de ensaios são claramente anunciados na introdução comum a todos os volumes, caracterizada por um formato reduzido, um preço acessível9 e uma linguagem que se pretende didática. No texto introdutório, Djamila Ribeiro afirma que pretende apresentar ao "público em geral" autores e autoras que abordam questões centrais do feminismo. Os diferentes temas estão relacionados às correntes do pensamento poscolonial e decolonial - encarceramento em massa, racismo estrutural, branquitude, interseccionalidade, empowerment, transexualidade, colorismo - e respondem claramente ao projeto de luta contra a "deslegitimação da produção intelectual das mulheres negras e/ou latinas, ou que propõem a decolonização do pensamento" (Ribeiro 2019, 13). Um ano e meio após o seu lançamento, a coleção já tinha oito títulos, com um total de 200.000 exemplares publicados10 .

Do Brasil para França #

Entre 2019 e 2020, a obra de Djamila Ribeiro começa a circular na França graças à iniciativa da editora Paula Anacaona11 , que publica Chroniques sur le féminisme noir12 , La Place de la parole noire13 e Petit manuel antiraciste et féministe14 , primeiras traduções da autora brasileira15 . Por ocasião da publicação das traduções francesas, a escritora fez uma turnê de apresentações na França e na Bélgica. Durante entrevistas nas mídias francesas, foi questionada sobre as tendências racistas e misóginas no seu país e sobre as novas mobilizações feministas16 . Após o assassinato de Marielle Franco17 e numa altura em que os exageros do presidente Bolsonaro e de sua política ambiental estão a sendo problematizados com grande preocupação pela comunidade internacional, Djamila Ribeiro encarna um Brasil diferente, um Brasil que resiste. Durante a turnê europeia, participou em seminários em universidades francesas e durante o encontro "Decolonising Feminism"18 dialogou com Françoise Vergès, que também escreveu o prefácio do Petit Manuel antiraciste et féministe. Estes intercâmbios revelam não só as redes pessoais e de solidariedade no seio dos movimentos feministas negros e pós-coloniais, mas também contribuem para inserir as obras de Djamila Ribeiro no pensamento decolonial francófono e no debate sobre as acusações de desvio comunitarista e anti-republicano que visam pesquisadores universitários das humanidades e ciências sociais que estudam as estruturas de poder e as dominações a partir de uma perspectiva racial.

No estudo da recepção e circulação das obras de Djamila Ribeiro na França, o projeto editorial que lhes deu origem está longe de ser negligenciável. No início da sua atividade, em 2009, o catálogo das edições Anacaona era articulado em particular em torno de traduções de obras de literatura marginal e periférica19 e é somente após a publicação de La place de la parole noire, que podemos observar uma virada. A partir de 2019, a coleção Epoca começa a especializar-se em ’ensaios para refletir sobre problemas da sociedade a partir de uma perspectiva decolonial do Sul global’20 . Paula Anacaona não se limita a traduzir e publicar uma seleção de títulos da coleção Feminismos Plurais, mas oferece obras centrais do pensamento feminista e/ou poscolonial contemporâneo que ainda são desconhecidas do público francês. Exemplos incluem Memórias da Plantação, de Grada Kilomba21, ou a coleção Pensée féministe décoloniale, uma seleção de textos de autoras brasileiras e latino-americanas22 . Esta antologia, na qual as contribuições de autoras fundamentais do pensamento feminista negro, pós e decolonialista encontram-se ao lado de textos de intelectuais de gerações mais recentes, particularmente universitárias, mostra a continuidade ao longo do tempo, a distribuição geográfica e a vitalidade destas correntes de pensamento. O desejo de Anacaona de se especializar nos feminismos contemporâneos é materializado pelo inédito Diálogo transatlântico, perspectivas de la pensée féministe noire et des diasporas transatlantiques, que apresenta as trocas entre Djamila Ribeiro e a professora e pesquisadora universitária Nadia Yala Kisukidi sobre vários temas, tais como espaços intelectuais negros, ativismo, identidade negra, e as ligações entre movimentos e feminismo negro ao longo do tempo. O primeiro livro de Djamila Ribeiro em francês23 , Dialogue transatlantique, tem o mérito de abordar questões centrais na reflexão sobre feminismos negros a partir dos elementos de continuidade e diferenças entre a França e o Brasil, sem passar por um "caminho" teóricos e conceitual vindo dos Estados Unidos e do mundo anglófono, que muitas vezes ainda é hegemônico no debate racial24 , tanto na França como no Brasil. Djamila Ribeiro e Nadia Yala Kisukidi discutem e citam, entre outros, Aimé Césaire, Frantz Fanon, Édouard Glissant, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Abdias do Nascimento. Estes autores e autoras formam um corpus comum de referências que mapeia trocas intelectuais circulares e contradiz a fixidez da tradicional hierarquia centro-periferia. Como Maboula Soumahoro assinala na introdução ao volume, o intercâmbio entre Ribeiro e Kisukidi representa uma "descentralização" que implica o reconhecimento da contribuição negra estadunidense para a questão do feminismo negro e a necessidade de colocar em questão a sua hegemonia e limites (Soumahoro em Ribeiro e Kisukidi 2021, 9).

Circulações #

No Petit manuel antiraciste et féministe, Djamila Ribeiro convida-nos a ler, debater e citar autores e autoras negros, a fim de se opôr ao "apagamento da produção de conhecimentos negros e anti-coloniais" (Ribeiro 2020, 63). Mais amplamente, ela usa o seu capital simbólico e a sua reputação junto do público brasileiro para promover estes autores e autoras negros e decoloniais, mostrando uma simetria entre a sua postura intelectual, a sua escrita e o seu projeto editorial25 . A atividade editorial, a promoção e a divulgação representam, de fato, um elemento constitutivo do compromisso de Djamila Ribeiro, que contribui para dar a conhecer a um público brasileiro de não especialistas autores e autoras como Audre Lorde, Bell Hooks, Patricia Hill Collins, Angela Davies, mas também Françoise Vergès e Grada Kilomba, citando-as nos seus artigos ou assinando as introduções às primeiras edições em português (Manera 2021, 136-139). No Brasil, como na França, estas iniciativas são também a expressão de um novo mercado editorial, alimentado inicialmente por editoras independentes, como a Anacaona e a Boitempo. Um boom editorial que responde a uma "euforia na enunciação do significante negro" que Kisukidi considera sem precedentes no contexto francês (Ribeiro e Kisukidi 2021, 155). Na análise da dimensão global do pensamento crítico sobre o fato colonial, as traduções e edições são embutidas de um valor material e simbólico fundamental. No caso específico de Djamila Ribeiro, a tradução francesa de Lugar de fala26 abre caminho para um reconhecimento nos círculos acadêmicos europeus e às edições noutras línguas27 . Como nos recorda Lélia Gonzalez, citando os casos de Franz Fanon e Abdias do Nascimento como exemplos, no processo de consagração de autores e autoras negros, a legitimação que vem do estrangeiro tem um impacto considerável na recepção crítica nacional. (Gonzalez 2020, 133).

Numa perspectiva mais ampla, as traduções francesas de Djamila Ribeiro fazem parte de um movimento circular, mesmo centrípeto, do pensamento feminista negro e pós/de/anti-colonial28 . Do Sul global, migram para o centro, como atestam as vendas da escritora Chimamanda Ngozi Adichie29 e o sucesso fora do Brasil de Conceiçao Evaristo30. Esta circulação ajuda a preencher, pelo menos parcialmente, a "lacuna de credibilidade" produzida pelas identidades raciais, nacionais e/ou de gênero do autor ou da autora e pode influenciar positivamente a recepção crítica e pública. Para uma ou para um autor chamada América Negra, o reconhecimento que resulta da publicação noutra língua é tanto mais significativo quanto as barreiras de tradução permanecem "‘organizadas numa matriz colonial’ e favorecem frequentemente os autores e as autoras norte-americanos que continuam a ser a referência no debate racial, como aponta Ribeiro (Ribeiro e Kisukidi 2021, 115). Um fenômeno já descrito por Lélia Gonzalez, que problematiza a passividade do meio intelectual negro brasileiro, perante "a postura político-ideológica do poder imperialista dominante do continente: os Estados Unidos" (Gonzalez 2015). Nesta perspectiva, a análise da circulação dos feminismos negros entre a França e o Brasil pode contribuir para a reflexão sobre a categoria de amefricanidade31 e sobre o alcance do patrimônio africano e autóctone como elemento unificador do continente, num processo de descentralização epistemológica.

Conclusão #

Tal como Chimamanda Ngozi Adichie, Djamila Ribeiro representa a atualidade dos pensamentos feministas negros contemporâneos, alimentados por referências globais e cuja difusão é veiculada, tanto por textos produzidos por um circuito editorial clássico, como por redes sociais e pelos meios de comunicação (Harpin e Raynaud 2021, 23). A análise da circulação e recepção destes pensamentos negros e pos/de/anti-coloniais, inseridos numa corrente global, revela um processo de descentralização das trocas intelectuais e participa na compreensão do "alcance da organização do sexo e do gênero sob o colonialismo" (Lugones 2019, 61). Se, como defende Djamila Ribeiro, a possibilidade de exportar seu pensamento e suas reflexões críticas representa uma "re-significação da rota transatlântica" (Ribeiro e Kisukidi 2021, 117), resta observar e analisar os efeitos destes movimentos de ideias e seu poder político na concretização da mudança, num momento em que, nas Américas, os direitos das mulheres e das minorias tornam-se o terreno de confronto de um debate ideológico cada vez mais polarizado.

Referências #

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Gonzalez, Lélia. 2020. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar/Editora Schwarz.

Harpin, Tina, e Raynaud, Claudine. 2021. "African American and African Black Feminisms: from (re)reading as critical practice". Estudos Literários Africanos. Dossier Relire les féminismes noirs, no. 51, 7-27.

Hollanda, Heloisa Buarque de. 2018. Explosão Feminista. Rio de Janeiro: Companhia das Letras.

Hollanda, Heloisa Buarque de (org.). 2019. Pensamento feminista, conceitos fundamentais, Rio de Janeiro: Bazar do Tempo.

Lugones, María. 2019. "The Coloniality of Gender", Les cahiers du CEDREF [Online], no. 23. https://doi.org/10.4000/cedref.1196); Tradução de Jules Falquet.

Manera, Giulia. 2021. "Djamila Ribeiro e o lugar do feminismo negro no Brasil". Estudos Literários Africanos. Dossier Relire les féminismes noirs, no. 51: 127-143.

I, Izabela. 2021. Diálogos transatlânticos. Uma editora em prol da diversidade da literatura brasileira na França, https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/literatura-em-lingua-francesa/dialogos-transatlanticos

Ribeiro, Djamila. 2018. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras.

__________. 2019. Lugar de fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, col. Feminismos Plurais.

__________. 2019. Crónicas do Feminismo Negro. Tradução de Paula Anacaona. Paris: Anacaona.

__________. 2020. Pequeno manual anti-racista e feminista. Paris: Anacaona.

__________ e Kisukidi, Nadia Ayala. 2021. Diálogo Transatlântico. Perspectivas sobre o Pensamento Feminista Negro e as Diásporas Africanas. Paris: Anacaona.

Silva, Cidinha da. 2018. "Feminismo negro". Em Explosão Feminista, Hollanda, Heloisa Buarque de (org.), 252-260. Rio de Janeiro: Companhia das Letras.

Vergès, Françoise. 2019. Um feminismo descolonial. Paris: La Fabrique éditions.


  1. Ver Holland 2018. ↩︎

  2. Para uma síntese do debate sobre a circulação dos estudos poscoloniais e decoloniais em França, ver Boidin 2009. ↩︎

  3. Para uma história das primeiras organizações e coletivos de mulheres negras no Brasil e a contribuição de Lélia Gonzalez, ver o artigo de Viana 2010. ↩︎

  4. Cidinha da Silva salienta que o movimento negro se desenvolve em paralelo com o processo de redemocratização [para combater a ideia de que a sua] "luta não foi vista como estruturante na reorganização política do país" (Silva 2018, 254) ↩︎

  5. Segundo Hollanda, o boom ideológico dos anos 80 foi marcado pelas obras de Gayle Rubin, Cherríe Moraga e Gloria Anzaldúa, Gayatri Spivak, Donna Haraway, Teresa de Lauretis e, na viragem da década, por Judith Butler’s Trouble in the Gender. ↩︎

  6. A coletânea de artigos de Djamila Ribeiro, publicada em 2018 pela prestigiada editora Companhia das Letras, intitula-se provocadoramente Quem tem medo do féminismo negro? Em francês, "Qui a peur du féminisme noir?". ↩︎

  7. Para uma análise mais aprofundada da recepção de Djamila Ribeiro e do seu trabalho na divulgação do feminismo negro, ver o artigo de Manera 2021. ↩︎

  8. Retomamos a análise de Claudine Raynaud e Tina Harpin sobre as posições e posturas enunciativas das ’estrelas’ dos feminismos negros contemporâneos Chimamanda Ngozi Adichie e Djamila Ribeiro (Harpin e Raynaud 2021, 19-24). ↩︎

  9. Todos os volumes são vendidos por R$24,90 (ou seja, menos de 4 euros à taxa de câmbio de outubro de 2020). Têm um formato pequeno - precisamente 11,5x15,5cm - e uma identidade gráfica comum, com uma fotografia a preto e branco do autor na capa. Após o título, aparecem o nome da coleção e o da coordenadora Djamila Ribeiro abaixo do nome da autora. ↩︎

  10. Mais detalhadamente: Lugar de fala (Djamila Ribeiro), Interseccionalidade (Carla Akotirene), Racismo Recreativo (Adilson Moreira), Racismo Estrutural (Silvio Almeida), Empoderamento (Joice Berth), Encarceramento em massa (Juliana Borges), Apropriação Cultural (Rodnei William), Intolerância Religiosa (Sidnei Nogueira) Dois outros títulos, Escritos de uma vida (Sueli Carneiro) e Ó Paí, Prezada (Carla Akotirene) são publicados com o selo Sueli Carneiro e estão também incluídos na coleção, com um desenho gráfico diferente. A partir de 2021, à coleção juntar-se-ão o Colorismo (Alessandra Devulsky), Transfeminismo (Letícia Nascimento), Trabalho Doméstico (Juliana Teixeira) e Discurso de Ódio nas Redes Sociais (Luiz Valério Trindade). ↩︎

  11. Paula Anacaona, tradutora formada, é a fundadora da editora independente Anacaona, especializada em literatura brasileira contemporânea, entre outras. ↩︎

  12. Título original: Quem tem medo do feminismo negro↩︎

  13. Título original: Lugar de fala. O texto foi publicado pela primeira vez em 2017 pela editora Letramento, de Belo Horizonte e está sendo republicado em 2019 pela Pólen-Sueli Carneiro com uma tiragem de 45.000 exemplares. ↩︎

  14. Título original: Pequeno Manual antirracista. ↩︎

  15. A França é o primeiro país a traduzir Djamila Ribeiro e abre caminho para edições em outras línguas. Em 2020, Lugar de Fala foi publicado na Itália (Il luogo della Parola, Capovolte) e na Espanha (Lugar de enunciación, Ambulantes) e outras traduções estão em preparação. ↩︎

  16. O website da editora Anacaona apresenta um dossiê de imprensa que nos permite observar, pelo menos parcialmente, a forma como as mídias francesas apresentam a autora no contexto da atualidade brasileira. Documentos e podcasts disponíveis online em: https://www.anacaona.fr/articles-de-presse-autour-de-la-feministe-antiraciste-djamila-ribeiro/. Ver também o artigo "Brazil: feminists remobilise after Bolsonaro’s election" publicado no Le Nouvel Observateur de 28 de Novembro de 2018. Artigo disponível online em https://www.nouvelobs.com/monde/20181128.OBS6162/bresil-les-feministes-se-remobilisent-apres-l-election-de-bolsonaro.html ↩︎

  17. Marielle Franco, vereadora pelo Rio de Janeiro eleita pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), militante pelos direitos humanos e empenhada na luta contra o racismo, homofobia e violência policial, foi assassinada em 14 de março de 2018. O ato, cujos culpados não foram identificados, foi considerado um assassinato político e tem suscitado uma onda de protestos no Brasil e internacionalmente. ↩︎

  18. Djamila Ribeiro foi recebida na Universidade de Rennes, na Universidade Lumière Lyon 2, na Universidade Jean Moulin Lyon 3, na Universidade Paul-Valéry Montpellier e na Universidade Toulouse 2 Jean Jaurès. A Conferência "Decolonizemos o Feminismo" foi organizada no dia 20 de novembro de 2019 pela editora Anacaona e a associação Autres Brésils nas instalações do Centro Internacional de Cultura Popular de Paris XI com a participação de Joyce Berth e Gerty Dambury. ↩︎

  19. A coleção ‘Urbana - escrever é uma arma’ apresenta títulos de Ferréz, Plínio Marcos e as coleções de contos I am Favela, I am Rio e ainda sou Favela, para citar apenas alguns. ↩︎

  20. A partir da página da editora Anacaona, https://www.anacaona.fr/collection-epoca-diversite-de-litterature-contemporaine-bresilienne/ ↩︎

  21. Originalmente publicado em inglês em 2008, o texto está a ser traduzido para português (uma tradução em Portugal, uma tradução no Brasil) em 2019 e para francês em 2021. ↩︎

  22. O texto na capa interior especifica mais precisamente que se trata de uma "Tradução colectiva e feminista do espanhol brasileiro e latino-americano" de textos de Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Maria Lugones, Susana de Castro, Ochy Curiel, Maria Elvira Diaz Benitez, Alba M. Aguinaga Barragán, Miriam Lang, Dunia Mokrani Chávez, Alejandra Santillana, Thula Rafaela de Oliveira Pires, Maria da Graça Costa, Rita Laura Segato, Aura Cumes e Martina Davidson. https://www.anacaona.fr/wp-content/uploads/Pensee-feministe-decoloniale-Anacaona.pdf Recordamos que até à publicação da colecção Pensamento Feminista Decolonial Maria Lugones apenas o artigo The Coloniality of Gender tinha sido traduzido para francês (por Jules Falquet) e publicado nos Cahiers du Credef (Lugones 2019). ↩︎

  23. A ser publicado em português por Bazar do Tempo com tradução por Natália Guerellus. ↩︎

  24. Para uma análise da influência das mulheres autoras do feminismo negro na obra de Djamila, ver o artigo "Djamila Ribeiro e o lugar do feminismo negro no Brasil" citado na bibliografia (Manera 2021, 127-145) ↩︎

  25. A criação da plataforma Feminismos Plurais, lançada em 2020, é um exemplo das atividades de divulgação e promoção realizadas por Djamila Ribeiro. https://feminismosplurais.com.br/cursos/ ↩︎

  26. Título francês La place de la parole noire↩︎

  27. Ver nota 15. ↩︎

  28. Mar Garcia analisa o movimento centrípeto de certos escritores poscoloniais (Abdourahman Waberi, Alain Mabanckou, Ananda Devi, entre outros), que se deslocam de editoras marginais ou independentes para as principais editoras parisienses. "Tal como os autores de World Fiction, estes escritores-mundo também fazem da hibridação a força motriz da sua escrita e, ao fazê-lo, instalam-se no centro editorial". (Garcia 2012, 271). ↩︎

  29. A tradução brasileira de Chimamanda Ngozi Adichie’s We Should All Be Feminists foi publicada em 2015 pela prestigiada editora Companhia das Letras, um ano após o seu lançamento. Após o sucesso do título no Brasil, a mesma editora também publicou Dear Ijeawele, ou um Manifesto Feminista em Quinze Sugestões em 2017, o mesmo ano da sua publicação inglesa. ↩︎

  30. Em 2015, quando a Feira do Livro de Paris honrou o Brasil, Conceição Evaristo foi traduzida para o francês pela primeira vez graças às Edições Anacaona, que publicaram The Story of Poncia. ↩︎

  31. Em contraste com os termos "afro-americano" e "afro-americano", Gonzalez propõe o termo "Amefricanos" para ultrapassar limitações territoriais, linguísticas e ideológicas e para considerar a América como um todo (Sul, Centro, Norte e Ilha). Salienta que o elemento da "latinidade" contribuiu para apagar a herança africana em favor da europeia, que marcou o continente no trauma colonial, e mantém em si distinções geográficas e divisões linguísticas do Velho Continente. (Gonzalez 2015). ↩︎

Para citar este texto:

Giulia Manera. 2023. « Diálogos e circulação de feminismos negros e pós-coloniais contemporâneos entre Brasil e França: o caso de Djamila Ribeiro e a coleção Feminismos Plurais ». In Colonialismos e Colonialidades: teorias e circulações em português e francês, Guerellus, Natália. Lisbonne-Lyon : Theya Editores - Marge - MSH Lyon Saint-Étienne. https://cosr.quaternum.net/pt/11.

Giulia Manera

Universidade da Guiana (França)

giulia.manera@univ-guyane.fr

Giulia Manera é professora de língua portuguesa e literatura brasileira na Universidade da Guiana Francesa (França). Doutora pela Universidade Paris Nanterre (França) e pela Universidade de São Paulo - USP (Brasil), é autora de numerosos trabalhos sobre as representações do gênero, a literatura de autoria feminina e os feminismos no Brasil contemporâneo.